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Alvo ao tiro: o problema com o Desenvolvimento de Produto

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Já se vão 10 anos trabalhando com desenvolvimento de produtos digitais. Neste interim, vi mais deles darem errado do que certo. Mas por que nossa taxa de erro é tão alta?

O processo para desenvolvimento de um produto é batido: temos um plano de negócios, um orçamento e previsão de venda. Temos uma lista das coisas que o produto tem que fazer, fruto de uma pesquisa que levantou tudo que os usuários/clientes pediram. Temos um time de engenharia para entregar essas funcionalidades, um time de marketing para bolar uma estratégia de comunicação e criação da demanda, e um time de vendas para, assim que o produto estiver pronto, fazer o lançamento e bater as metas.

E eis que, depois de várias semanas (meses, anos) de noites mal dormidas, o produto fica (mais ou menos) pronto. Isso, ou batemos o prazo imposto pelo plano de negócios para lançamento. O marketing lança a campanha, e eu vejo chamadas do meu produto, meu filho, em rede nacional, pôsteres no ponto de ônibus, e anúncios em página de revista. Corro para a empresa atrás dos números do time de vendas, mas descubro que o resultado não está de acordo com o que era esperado no plano de negócios.

Os clientes do produto — meus clientes — não estavam se comportando como nós esperávamos.

O marketing toma uma coça da diretoria, e começa uma corrida frenética para criar o mercado que justifique todo o dinheiro que foi gasto em fazer aquele produto. O preço diminui, as campanhas ficam mais intensas. Entramos em uma espiral de comoditização do nosso produto. O fim está próximo.

E, sem parar para entender direito o que deu errado até ali, decidimos começar um produto novo.

Este ciclo foi minha realidade durante muitos anos, e sempre me frustrou demais. Eu conseguia identificar qual era o problema: nós começávamos trabalhando unicamente baseados em opiniões, e por mais que fizéssemos pesquisa, ela era enviesada ou por quem fazia as perguntas, ou pelo próprio cliente, que sabe o que quer, mas não sabe de que precisa. Um cliente é capaz de te dizer que amou seu produto e, uma vez que o mesmo está disponível, jamais comprá-lo. E eu não estava preparada para lidar com isso.

Somente quando comecei a ter contato com o conceito de Lean Startup comecei a realmente aceitar que não podíamos nos basear na palavra ou opinião de ninguém — nem do próprio cliente. Apenas cenários reais de uso e verdadeiras reações em contato direto com o produto, ainda que prototipado, nos dariam uma noção real de onde apostar nosso dinheiro. Além disso, por mais legal que seja o seu produto, se ele não resolve um problema realmente importante para seu cliente, ele está fadado a virar commodity, ou desaparecer.

Se você tem um produto fantástico, mas ainda está buscando descobrir que problema ele resolve, você está fazendo alvo ao tiro.

Ao começar a mergulhar no universo do agilismo e ter contato com o Lean Startup, dei uma olhada para trás e percebi que cometi diversos erros, alguns deles muito dolorosos.

O apego ao projeto

O primeiro, e mais comum, é você desenvolver um apego ao projeto. Eu tive times fantásticos, e juntos fizemos coisas maravilhosas. Eu não conseguia conceber como um grupo com mentes tão brilhantes pudesse entregar algo aquém de um produto incrível. Somado a isso, existia um medo real de que, se o projeto acabasse, pessoas perderiam o emprego. Eu me sentia responsável pela vida dessas pessoas, e isso afetava diretamente meu julgamento sobre se aquilo que estávamos entregando poderia realmente dar certo.

O apego à solução

Este é um ponto que eu superei relativamente rápido, mas não sem antes gerar alguns estragos. Quando eu imaginava uma solução para o problema que encontramos, eu me apegava a ela, e evitava ouvir as outras pessoas, no afã de implementar logo o que eu havia pensado. Dei com a cara na parede algumas vezes, e ouvi "eu tentei te avisar", até aprender que uma solução co-criada entre todos os membros do time é sempre mais eficiente do que a solução que eu crio sozinha.

O apego ao problema

Uma vez que eu tinha uma visão de produto definida, era claro para mim quão valioso era aquele produto. Mas isso não significava que o produto seria economicamente viável. Normalmente eu acerto quando aposto que uma determinada solução vai resolver um dado problema (o que já é melhor do que a média dos gerentes de produto ou POs que eu conheço, mas causava o apego à solução que descrevi acima), mas eu era prepotente em achar que o problema que eu escolhi era muito importante para as pessoas que seriam meus clientes.

Eu achava que testar se a solução era eficiente para resolver o problema era bastante.

Demorou muito até que eu me desse conta de que que precisava testar se o problema que eu estava tentando resolver era suficientemente incômodo para justificar que as pessoas gastassem dinheiro para resolvê-lo.

Hoje, minha forma de atuação é um reflexo direto do aprendizado que tirei destes erros. Nem sempre consigo validar se o problema é suficientemente incômodo antes de começarmos a construir o produto, mas tento, com a release 1 nas mãos, validar não apenas a visão de solução, como também se o problema está correto. É importante ter clareza de que, se o problema não for bastante doloroso, o cliente despenderá menos esforço em lidar com o sofrimento de manter as coisas como estão do que em lidar com a dor de mudar e aderir à solução que você pensou.

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